terça-feira, 20 de novembro de 2007

A utilidade da leitura


Uma das coisas que mais me desgosta, no início de cada ano lectivo, é ouvir algum aluno afirmar, peremptoriamente (porque estes jovens adolescentes costumam, por norma, ter muitas certezas), que a literatura não é útil, “não serve para nada” e que, por isso, não gostam de ler. Lá lhes tento explicar que nem tudo na vida se resume a uma questão de utilidade. Que um livro não é um tractor ou um “passe-vite”, não é um objecto decorativo para as estantes, ou, como diz o outro, para colocar debaixo do pé da mesa. Enfim, que o livro vale pelo mundo que nos faz descobrir e que, por isso, a literatura, se tivermos a mente disponível, está em todo o lado.
Mas é difícil acabar com estes mitos. Podemos sempre alegar que há efectivamente livros úteis, mais técnicos porventura, livros de estudo. Mas parece-me que esse não é o caminho. O que importa verdadeiramente é salientar no livro a volúpia da descoberta, o encantamento que nos leva a querer devorar um livro até ao fim, página atrás de página, como as cerejas. É certo que há livros que não despertam em nós esse deslumbramento. Perfeitamente! É difícil agradar a gregos e a troianos! Mas, há, acima de tudo, que procurar o nosso livro-gémeo, aquele que nos entende, que nos decifra, que nos leva a procurar outros livros-irmãos. Como costumo pensar, é preciso dar uma oportunidade aos livros e eles recompensar-nos-ão pela vida fora.
E foi a propósito destas considerações que me veio à ideia a figura do “mestre”. Não do Alberto Caeiro, mas do “nosso mestre”, o professor Ferreira Soares. O seu enlevo sempre que fala de um livro preferido, o seu entusiasmo a declamar uma poesia do seu autor predilecto, enfim, o prazer de ler que conseguiu manter intacto dentro de si, ao longo dos anos, são a prova do que acabo de dizer. Sempre que lê em público, o venerando professor consegue provar-nos que ler poderá até não ser útil, no sentido mais imediato, redutor e pobre da palavra, mas é, claramente, um prazer intelectual. E, na vida, todos precisamos de pequenos prazeres.
Pudesse eu ter a “tuba canora” de Camões e lhe ditaria uma epopeia! Como não posso, limito-me, neste final de texto, a tentar imitar-lhe o estilo e roubar-lhe o ponto de exclamação!
- Professor Soares! Muito obrigada por existir e por ler!

Aurora Monteiro, Equipa da Biblioteca da AVECP

Foto: Momentos de leitura no âmbito da comemoração do Dia Internacional da Biblioteca Escolar

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